sexta-feira, maio 19, 2006

Reflexões aleatórias

O José Gomes Ferreira costumava dedicar ou "motivar" alguns dos seus poemas à "Mulher Inventada".
Posso até estar de acordo com ele.
De certa forma, todas são mulheres inventadas. Mesmo que existam, há sempre uma construção que fazemos sobre a sua pessoa, um misto de aplicação de uma camada de expectativas ao desejo de sermos felizes. É egoísta e perfeitamente legítimo: afinal de contas, quem é que não quer ser feliz?
Há pouco tempo falava com um amigo, sobre o que é que as mulheres queriam.
Naquele caso concreto, estava em causa uma estratégia de aproximação a (mais) uma "aquela".
E eu, do topo da minha ingenuidade (?) respondi, o que as mulheres querem é ser compreendidas. E não queremos todos isso? alguém que nos compreenda, que nos ame incondicionalmente, que esteja connosco quando estamos em baixo, que partilhe connosco os bons momentos (porque os bons momentos só fazem sentido se os partilharmos, ou por outra, fazem mais sentido se os partilharmos)?
O problema está em que, muitas das vezes, parece que queremos forçar aquela pessoa a ser quem nós queríamos que fosse. Como se estivéssemos quase a completar um puzzle de 5 mil peças, e ao fim víssemos que nos enganámos e então forçamos peças a caber onde não pertencem. E a coisa fica bem composta, bem disfarçada, parece quase que aquele pedacinho ali completa a vegetação densa, e a não ser que se olhe atentamente, ninguém nota, e o nosso sucesso é quase total.
Mas só para os outros. É claro que no fundo sabemos bem a trapaça que fizémos.
A merda com o amor é que não temos que dar justificações a ninguém, nem sequer o temos que exibir. É autenticamente nosso, para nós, único, pessoal e intransmissível, tipo bilhete de identidade, mas sem documentos. Com o amor, o engano da peça forçada resulta numa frustração mais cedo ou mais tarde insuportável. E a nossa felicidade dependerá da capacidade (ou não) de nos iludirmos. A lucidez e a estultícia sempre estiveram associadas à felicidade e miséria, e não por esta ordem respectiva.
Será que o problema está na peça que inventamos ou na mulher que não nos quer caber no espaço?

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NPAF

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Parabéns Daniel, tens aqui um belo blogue a dar para o introspectivo, e, sim senhora, tu tens jeito "pa coisa". Um abraço- Simão

5:09 da tarde  

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