Sem um propósito particular...
“Carregada a nau no profundo do mar por cobiça e cuidando que fosse ao fundo por quão rota e aberta ia, começaram por confessar-se sumariamente a alguns clérigos, sem tino e sem ordem, que o confessor chega a tapar a boca ao alienado que vai gritando alto os seus pecados.
E a gente do mar, por natureza inumana e mal inclinada, embarcava em jangadas que construiam, roubando e destruindo tudo, e defendendo as embarcações dos mais que as vinham demandar, à força das espadas e de safanões.
Foi o espectáculo deste dia o mais triste e lastimoso que se podia ver.
E aquela gente toda aos arrecifes agarrada, e que a maré enchendo os afogava, bradavam pelos do batel e das jangadas nomeando muitos por seus nomes, toda a noite num perpétuo grito tamanho que penetrava os céus.”
in GOMES DE BRITO, Bernardo, “A Trágico-Marítima”
Porquê este "post"?
Ontem falava com uma amiga, explicava-lhe que os portugueses são uma raça sui generis. Capazes do melhor e do pior, e tristemente, com mais frequência fazem o primeiro que o segundo.
É também um acesso fervoroso de nacionalidade, ou melhor, de familiaridade, uma minha história sem que a tenha vivido. Porque também indirectamente é um passado meu.
Nunca vivemos sem passados, nossos, de outros, cruzados, ou apenas em encontrões de rua.
A sugestão de hoje vai para "Crónicas da Terra Ardente", do Fausto.
Boa audição.
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