quinta-feira, março 02, 2006

infecções urinárias semanais...



O que quer que seja que me prende,
Seja lá o que for que me interesse,
Quer desça a rua a pé ou a rastejar,
Calçado, descalço, roto ou nu
A verdade é bem dita se se acredita.

Que entretanto sejamos espezinhados docemente,
Para que as flores não murchem em vão.
Dolorosamente instaladas as tubagens directas ao coração,
Sinto agora o sangue a correr.
As manchas do corpo a alastrar pelos solos férteis do Alentejo
Que os fios cruzados tropecem em ti e te levem a acreditar

Atiro um braço a um qualquer rival – não tenho rival
Tenho consciência disso e mentalizo-me do contrário
Só pelo gozo de poder mais tarde dizer que não fui eu
Ou simplesmente que estava fora de mim
Às vezes sou assim
Megalítico e primitivo – perdoem-me o precipitado juízo
Ou a momentânea falta dele

A partir de agora, apenas histórias que não me pertençam
Higienicamente mais puro
Respirar com intenção e não pensar demais
Ou mesmo abolir o pensamento
Deixa-me ir contigo mas carrega-me às costas
Mudas as conversas consoante as respostas
Vives a vida por mim e não te apagas nem te apegas
As ondas de infecção urinária tornam-nos mais sensíveis
Venham infecções urinárias semanais
Para disfarçar as nódoas negras e o reumatismo
(Se me é permitido tal eufismo…)
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DACC

imagem: http://www.bioatividade.hpg.ig.com.br/fotos_ilustracoes/Anatomia_ilustracoes/coracao.jpg