quarta-feira, maio 24, 2006

Diário da Queima - Dia3: José Mendes (e as suas bailarinas) e Quim Barreiros




Ontem foi um dia inesquecível para a música.
Ter reunidos no mesmo palco nomes como João Brasa, José Mendes, e Quim Barreiros, é um daqueles momentos raros que é certamente digno de nota.
Mas por onde começar?...

Vamos primeiro pelo panorama geral da noite.

A noite do porco, do vinho e do fado é noite de raízes nesta academia.
É a única noite em que se pode curtir música pimba sem se ser discriminado. É a única em que o "mitrol" sai à rua e faz a sua aparição tão efusiva quanto marcante. Há bifanas e caldo-verde à pala, e mesmo que já faltem as senhas, dois dedinhos de conversa e um sorriso bonito para a menina que está a servir os comes derruba muitas barreiras.

Ontem havia no hipódromo um clima muito "campestre". A dado momento quase parecia que aquilo era um mega-baile de aldeia (até tocaram o "aperta aperta com ela", vejam só!), e as hierarquias chegaram mesmo a subverter-se: quem tinha mais pinta não era o que se vestia assim ou assado, quem fazia isto ou aquilo, mas quem sabia dançar, quem tinha a "tarimba dos bailes".

E foi bastante divertido verificar isso, que ainda se pode descomprometidamente, apreciar um belo bailarico nos tempos que correm, e que definitivamente, este que vos escreve ainda tem muito a aprender na arte do "dfança-dança, roça-roça, mexe-nexe".

Agora, os artistas.

João Brasa fechou a "noite de fados". Trazia consigo um cadelão enorme, volumoso, bêbado, ao nível daquilo a que nos habitou nos salões da Sociedade Harmonia Eborense.
Como sempre, disse que tinha um cd gravado, tentou vender ao público com a tradicional "já sabem que se quiserem, tenho ali uns cd'zitos para vender, que um homem tem que viver..."!... Ai, João Brasa, se tu vivesses com o que te dão os cd's, usavas o 42 de calças!

Adiante.

José Mendes (e as suas bailarinas) deu um show bastante misto. Ora um original, ora um Tony Carreira, ora outro original, ora mais um Diapasãozito...
A voz, horrível; a afinação, não existia; a pose, caótica. Mas não obstante, uma sinceridade qualquer de estar a fazer algo que gosta.

É que, reparem, ontem o José Mendes ensinou-me isto: que até o mais hediondo dos sonhos pode tornar-se realidade. E ele é a prova viva disso: um farmacêutico (ou ajudante de farmácia) na casa dos trinta e muitos, pequenino e pinante, com uma péssima afinação (mas quando deu um toque no cante alentejano, espantou-me!, repito, espantou-me e bem!), péssimo sentido de palco, sem ritmo, sem nada senão uma enorme vontade e um sonho de querer fazer seja lá o que fôr que faz, mas o que importa é que faz.

O José Mendes ensinou-me ontem que todos os sonhos são possíveis, todos sem excepção, e que Deus premeia aqueles que tentam, os perserverantes. A democracia do Sonho é tanto mais real quanto os nossos ouvidos se apercebem da sua dura e cruel realidade. E, se na arte que o senhor perfilha, não o posso acompanhar, ao menos no facto de ele ali ter chegado, aí haverá sempre um lugar no meu coração para exemplos como o José Mendes.

O último concerto da noite esteve a cabo de Quim Barreiros, o "Jaquim", ou "Quinito", como alguns lhe chamaram ontem.

Marcou pontos assim que entrou em palco, disse logo, "aqui quem quiser cantar, canta, quem quiser dançar...". E as pessoas gostaram dessa sinceridade. O povo geralmente gosta.
O concerto continou, medley aqui e ali (porque os acordes são sempre os mesmo), e a poeira levantou, as vozes ergueram-se juntamente com os copos de vinho e as sardinhas assadas, e a multidão rejubilou!

Hoje não houve notas nem avaliações para ninguém, todos passaram, todos vingaram, até aquela rapariga de óculos que me puxou a dançar e me deu uma trapada de dança irrepreensível.
Graças a ela poderei aspirar a dominar as praças deste nosso Portugal em festa!
E sabem que mais?, até pode ser que venha a acontecer...

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NPAF

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

I say briefly: Best! Useful information. Good job guys.
»

10:21 da manhã  

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