segunda-feira, março 13, 2006

Memória Curta...



Já milhares de pessoas se referiram a este assunto, mas... como podemos nós ser tão selectivos em relação ao que consideramos acontecimentos históricos??
Ontem eram as eleições presidenciais que nos atafulhavam metade do dia televisivo, como se de uma batalha nunca antes vista se tratasse... Hoje... alguém se lembra disso?? Alguém fala nas questões que se debatiam efeverscentemente?
Na minha terra, aquando das eleições autárquicas, voaram panfletos a atacar a presidente da junta, que fez questão de utilizar o dinheiro dos contribuintes para espalhar a sua defesa, ainda para mais sujando o chão... Sentei-me nas mesas de voto, e assisti a um momento histórico: nunca tinha havido tanta afluência aos ditos boletins da democracia...
No fim, as pessoas empurravam-se para ver os resultados, enquanto eu muito calmamente cortava os pedaços de fita-cola para os afixar. Gritavam "mostra lá isso", e no fim, foi a euforia!! Urros de vitória ecoavam, a presidente dançava e telefonava aos amigos (do telefone fixo da escola claro!), dizendo as exactas palavras "demos-lhe uma sova histórica", enquanto os seus adversários por ali passavam.
Achei aquilo uma atitude inconsciente, e arrependi-me imediatamente do meu voto.
Mas o que mais me marcou foi que, no dia seguinte, os papéis continuavam no chão, mas os temas já não estavam em cima da mesa... Será que a simples eleição foi a solução de todos eles? Ou o problema era a eleição?
Desde aí, nada mudou, nem na minha terra, pouco no país.

Um tsunami varreu, se não me engano, cerca de 250 mil pessoas. Uma semana passada, já ninguém se lembra disso...
O Live8 foi anunciado como um "acontecimento histórico marcante, onde a música combatia a pobreza". A dívida aos países pobres não foi perdoada, continuou tudo na mesma, valeu exclusivamente pelo espectáculo, e acabou por fazer história unicamente pela reunião dos velhinhos Pink Floyd.

Parece-me que há demasiado a acontecer para que qualquer coisa possa entrar na história, a memória não é mais curta, está é a atingir o seu limite de capacidade...
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DACC

imagem: http://www.en.archiworld.it/home/immagini/urna.jpg

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A questão é: será que o que mudou foi os critérios de selecção daquilo que é considerado "histórico" (e aqui poder-se-ía colocar a questão do "histórico" como aquilo que é divulgado para o conhecimento público, e a aceitá-lo, pensar no papel dos media e do seu controlo como meio de difusão ideológica); a velocidade cada vez maior a que a História se desenrola (devido à revolução nos meios de comunicação, em especial a partir da segunda metade do século XX) ; ou a valorização do papel do indivíduo como contribuinte directo para o processo histórico (no sentido de uma evolução posterior à revolução industrial, a mobilidade social acentuada e a cena do self-made-man)?
Não obstante, confirma-se a volatividade dos acontecimentos.
Um pouco como o modo de vida da sociedade fast-food e pret-a-porter que hoje vigora.

6:35 da tarde  

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