quinta-feira, abril 20, 2006

Falemos um pouco de política...


O líder do PSD, Marques Mendes, veio a público reprovar a situação ocorrida recentemente na Assembleia da República, em que não ocorreu votação por falta de quórum.
Quando questionado acerca se concordava com a situação, respondeu prontamente que não; de seguida, o jornalista perguntou qual a sua justificação para a falta dada, ao que o líder social-democrata contornou, qual Luís Figo, a pergunta, de forma, admito, brilhante - tal e qual o craque! -, dizendo que não queria comentar a situação, mas que não ía justificar a falta que deu, adiantando de seguida, que a situação foi lamentável, e que jamais se deveria repetir.
É curioso que Marques Mendes caia em contradicção deste modo: por um lado afirma que a situação é reprovável; por outro, esquiva-se a dizer porque faltou, dizendo que prefere que lhe debitem um dia de ordenado. E a responsabilidade, onde está? Com que direito vem ele reprovar a situação, se, tendo oportunidade, logo ao início, de contribuir para que ela não ocorresse, preferiu antecipar as suas férias pascais?
Dizer que o discurso da crise só se aplica ao povo, e que a elite dominante passa ao lado dos sacrifícios exigidos a quem menos pode já é um lugar comum, muito embora não seja menos verdade por isso.
Inédito mesmo seria despolitizar a classe política e retorná-la à sinceridade da vontade de melhorar um país que está, a bem dizer, na merda.
Bem a modos dos tempos do PREC, em que não havia códigos de vestuário na Assembleia da República, se fumava na televisão, se tiravam fotografias para o B.I. e cédula militar de óculos escuros. Porque a aparência era um supérfluo à vontade de sair da inércia de 48 anos de ditadura. Porque havia desejo de, acima de interesses partidários, contribuir para um novo Portugal.
Martin Heidegger, filósofo contemporâneo, disse a dada altura que "já só um Deus nos pode salvar", referindo-se à necessidade de um retorno crítico ao vector espiritual do homem como fuga do paradigma da técnica, que consome e dessacraliza o homem, esvaziando-o de sentido.
Adaptando a coisa, e tendo em conta que, de filósofo só tenho um canudo, diria que, para a política portuguesa, já só um novo 25 de Abril nos pode salvar. Mas não um 25 de Abril com episódios de comunistas soviéticos ou de forças de direita entre o antigo regime e a nobreza. Não, um 25 de Abril que desperte nas mentes a necessidade de sair do egoísmo retrógado e tão característico do "portuga", e que o leve a abdicar dos interesses próprios de luxo, glória e poder, em detrimento de uma nação.
Falo de um 25 de Abril para as mentes!
Em conversas já me falaram de um Governo tipo Junta de Salvação Nacional.
É uma hipótese.
É que, aquando do 25 de Abril, essa mesma Junta garantiu que, nem à esquerda nem à direita, ninguém se armasse em chico-esperto e se chegasse à frente a reclamar louros imerecidos de algo conseguido por todos.
Nessa altura, o MFA era garantia de isenção. Mesmo com episódios humorísticos de paraquedistas e contra-informação.
Hoje, perdoem-me a sinceridade, seria uma porta aberta a uma ditadura militar. Não acredito que generais saídos do fascismo e soldadinhos de chumbo com a quarta classe e um gosto impressionante por estar na moda com veículos kitados e atacadores brancos enlaçados à marinheiro nas botas cardadas possam ter a capacidade de fugir ao brilho tentador e fácil da ganância.
Quem será, então, o novo MFA?
Talvez o conjunto de cidadãos anónimos que pensa, e que crescentemente está farto de ver as mesmas caras nos mesmos sítios num país que inevitavelmente insiste em continuar na mesma.
E, neste espírito, junte-se a mim quem queira: 25 de Abril, sempre!
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NPAF

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O líder do PSD, Marques Mendes anda em campanha para as eleições no partido...

10:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tocaste num ponto essencial a meu ver: a anonimidade. Foi a anonimidade que garantiu o 25 de abril. Não é o exagero comunista de deixar o interesse pessoal de lado para abraçar o interesse comum, não é o ideal fasço de direita de se afirmar como grande conquistador de tudo de bom que existe, é o trabalhar para o bem comum com a certeza que, também pessoalmente, se irão retirar dividendos desse processo! É trabalhar para o bem comum PORQUE assim se vai trabalhar para o bem pessoal! E perguntarão alguns, então porque não continuar a trabalhar exclusivamente para o bem pessoal sem se chatear com o resto? Muito simples, a fonte sempre se esgota, mais cedo ou mais tarde, e o tempo das vacas magras dói nas costas de toda a gente...

4:30 da manhã  

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