sexta-feira, junho 30, 2006

Por aquela estrada abaixo, pt. 2/2


Por aquela estrada abaixo vai um padre acompanhado

Vai com duas prostitutas, cada uma do seu lado

As más línguas já não param, querem-no crucificado

Por aquela estrada abaixo lá vai Deus com o Diabo


Por aquela estrada abaixo vai a ninfa de Saturno

Um homem já não acorda de um longo sonho diurno

Quando o dia é sempre o mesmo não interessa o acordar

Por aquela estrada abaixo vai o sol até ao mar


Por aquela estrada abaixo vai um homem na manada

Fala só quando é preciso e quando fala não diz nada

Presente quando lhe interessa, ausente na hora amarga

Por aquela estrada abaixo vai mais um burro de carga


Por aquela estrada abaixo vai a guerra em movimento

A corneta já ressoa, acabou-se o sofrimento

Uns são mártires para a história, outros carne para canhão

Por aquela estrada abaixo vai a Terra em translação


Por aquela estrada abaixo vai o tiro de um canhão

O rei manda e o povo morre pelo bem de uma nação

Pouco interessa mais um ferido, um morto ou um refém

Por aquela estrada abaixo já não anda mais ninguém

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DACC

imagem: http://mocambique1.blogs.sapo.pt/arquivo/INHAMBANE%20-%20estrada%20de%20entrada%20na%20cidade_resize.jpg

terça-feira, junho 27, 2006

Por aquela estrada abaixo, pt. 1/2


Por aquela estrada abaixo vai um morto e o outro ferido

Um foi morto e enterrado e o outro já foi esquecido

Uns lutam pela liberdade, os outros lutam em vão

Por aquela estrada abaixo vai a glória da nação


Por aquela estrada abaixo vai um velho reformado

O seu dia já não finda, o seu tempo está esgotado

As pessoas já choraram o que tinham a chorar

Por aquela estrada abaixo vai o morto a enterrar


Por aquela estrada abaixo vai um rei de bicicleta

Sem juízo nem travões, lançado como uma seta

Mandou-se contra a parede e deitou sangue do nariz

Por aquela estrada abaixo foi-se um reino e um país


Por aquela estrada abaixo vai um grande democrata

A impingir o seu regime à gente mentecapta

Matou cinco ou seis ou sete em nome da humanidade

Por aquela estrada abaixo lá se foi a liberdade

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DACC

imagem: http://diariodesombras2.blogs.sapo.pt/arquivo/estrada.jpg

quinta-feira, junho 22, 2006

Landfill - 31 de Outubro

a 31 de Outubro é lançado pela Test Tube o primeiro álbum do projecto Landfill, do vosso blogger DACC, Panorama de Uma Vida Normal.

será uma edição online gratuita pela netlabel ligada à editora Monocromática, e terá o total de três temas, Banda Sonora Para Um Dia Normal, Vida Constante e Mais Um Dia Igual. Space-rock,

pós-rock, rock alternativo, enfim, o que fôr...
na altura serão divulgados mais pormenores.
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DACC

sábado, junho 17, 2006

é azul

é azul, dizes tu
pois é, digo eu
e então que farias se não o fosse?, dizes tu
seria uma pessoa completamente diferente, digo eu
porque não te transformas e encarnas uma personagem permanente na tua vida?, dizes tu
porque teria de me rebaixar ao ridículo de ser uma pessoa que não eu própria, digo eu
nunca serias alguém para além de ti próprio, isso nunca pode acontecer, dizes tu
teria características diferentes daquelas que me traçam o perfil, digo eu
serias ainda tu em toda a tua extensão de movimentos, dizes tu
é azul, portanto?, digo eu
sim, dizes tu
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DACC

quinta-feira, junho 08, 2006

2 putos pt 2

- tens, portanto, uma ideia de que tudo quanto tens vindo a pensar é ridiculamente adolescente?

- faço uma pequena ideia, mas nunca pensei que isso pudesse ser de alguma forma prejudicial...

- é uma questão de bom senso: sem questões não há problemas, qualquer livro com mais de mil anos te diz isto, não é novidade nenhuma. se fosse, não seria certamente um puto de 14 anos como eu que a iria descobrir.

- acho que vou ter maior dificuldade em enfrentar o dia-a-dia agora, que tenho noção da minha insignificância neste processo todo...

- mas como? repara, tu és o processo todo! se não viveres, a vida não existe para ti, e se não existe para ti não existe para ninguém de uma perspectiva que seria a tua!

- isso parece tudo filosofia barata que estás para aí a atirar para o chão...

- a filosofia cara não me interessa, deixo isso para os teóricos, eu estou demasiado ocupado a viver a minha vida para sequer escrever mais qualquer coisa que seja
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DACC

segunda-feira, junho 05, 2006

2 putos e o sentido da vida

- tinhas razão, dizia o puto do outro lado do quarto, aquela velha ideia de que as coisas acabarão por ficar bem já não resulta.

- mas repara, isso depende se as coisas ficam bem ou não... - respondia o outro.

- não me interessam muito essas flutuações de humor dos destinos dos homens. mais dia menos dia, tudo acaba por encontrar um sentido viável, e as pessoas deixam de se preocupar. as alegrias e as tristezas não passam delas mesmas, já não trazem crises existenciais ou dúvidas inconscientes. é este o mundo dos adultos.

- quer dizer que achas que não vale a pena deambular muito pela incoerência da vida, porque é essa a sua linha guía, o seu caminho traçado?

- não! o que estou a dizer é que nem deverias estar a fazer essa pergunta porque não vale a pena.

- mas se não consigo evitar pensar certas coisas...

- é simples, não penses.
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DACC

2 putos e o sentido da vida

- tinhas razão, dizia o puto do outro lado do quarto, aquela velha ideia de que as coisas acabarão por ficar bem já não resulta.

- mas repara, isso depende se as coisas ficam bem ou não... - respondia o outro.

- não me interessam muito essas flutuações de humor dos destinos dos homens. mais dia menos dia, tudo acaba por encontrar um sentido viável, e as pessoas deixam de se preocupar. as alegrias e as tristezas não passam delas mesmas, já não trazem crises existenciais ou dúvidas inconscientes. é este o mundo dos adultos.

- quer dizer que achas que não vale a pena deambular muito pela incoerência da vida, porque é essa a sua linha guía, o seu caminho traçado?

- não! o que estou a dizer é que nem deverias estar a fazer essa pergunta porque não vale a pena.

- mas se não consigo evitar pensar certas coisas...

- é simples, não penses.
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DACC