segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Tens 18 anos e a 4.ª classe...


"A GNR de Elvas deteve um homem por suspeita de tráfico de estupefaciente, na tarde de sábado, em Campo Maior.
Os militares apreenderam 16 gr de haxixe, que daria para cerca de 80 doses individuais."


Hoje vamos falar de crime e vilania.
Pois é, a GNR de Elvas deteve um homem na posse de 16 gramas de Haxixe!
Este cruel malfeitor tinha em sua posse uma quantidade de estupfacientes suficiente para 80 doses individuais! Espante-se, 80 doses individuais!!

Só uma pequenina questão: qual é a medida standart para uma dose individual de haxixe? Em que sistema de medida se baseiam as autoridades? O americano? O europeu? Onde posso alcançar essa informação? Por favor, se alguém me conseguir explicar este mistério, ao nível de tantos outros da humanidade, como o porquê de as mulheres irem sempre juntas à casa de banho ou o porquê do Paulo Portas ter sido Ministro da Defesa quando ainda há em vigor um artigo 16, por favor, postem o link, postem a informação, qualquer coisa!!

Seguindo para bingo, eu só tenho a louvar o trabalho destes competentes profissionais, cuja elevação moral e educacional está, sem dúvida alguma, acima da média (comprovam-no os testes de admissão!).
Não é qualquer um que arrisca diariamente a sua vida malhando whiskey e detendo condutores embriagados.
Taxativamente, dou voz à maioria silenciosa que deseja que a Rotunda do Marquês se passe a chamar Rotunda do Sr. Agente!
Templo de Diana em Évora???!!! Não! Templo do Sr. Agente!
Contra os canhões marchar, marchar??!!! Jamais essas estrofes desconexas. Doravante, que seja contra os camiões, multar, multar!
Porque isto sim, é serviço público! É para isto que vai o dinheiro dos meus impostos, e eu quero ver reconhecido tão esforçado pecúnio em magnânime sucesso como é a Guarda Nacional Republicana.
Ergamos os copos e dê-mos graças a Deus por tão bela força que nos segura!
Ergamos bem alto os nossos cálices, e entoemos três vivas à Guarda Nacional Republicana!
Viva a GNR!
Viva!!!
Viva a GNR!
Viva!!!
Viva a GNR!
Viva!!!

Vêem?
Eu bem disse que íamos falar de crime e vilania!...
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NPAF

sábado, fevereiro 25, 2006

Sem um propósito particular...


“Carregada a nau no profundo do mar por cobiça e cuidando que fosse ao fundo por quão rota e aberta ia, começaram por confessar-se sumariamente a alguns clérigos, sem tino e sem ordem, que o confessor chega a tapar a boca ao alienado que vai gritando alto os seus pecados.

E a gente do mar, por natureza inumana e mal inclinada, embarcava em jangadas que construiam, roubando e destruindo tudo, e defendendo as embarcações dos mais que as vinham demandar, à força das espadas e de safanões.

Foi o espectáculo deste dia o mais triste e lastimoso que se podia ver.

E aquela gente toda aos arrecifes agarrada, e que a maré enchendo os afogava, bradavam pelos do batel e das jangadas nomeando muitos por seus nomes, toda a noite num perpétuo grito tamanho que penetrava os céus.”

in GOMES DE BRITO, Bernardo, “A Trágico-Marítima”


Porquê este "post"?

Ontem falava com uma amiga, explicava-lhe que os portugueses são uma raça sui generis. Capazes do melhor e do pior, e tristemente, com mais frequência fazem o primeiro que o segundo.

É também um acesso fervoroso de nacionalidade, ou melhor, de familiaridade, uma minha história sem que a tenha vivido. Porque também indirectamente é um passado meu.

Nunca vivemos sem passados, nossos, de outros, cruzados, ou apenas em encontrões de rua.

A sugestão de hoje vai para "Crónicas da Terra Ardente", do Fausto.

Boa audição.


quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Prefácio a uma valsa dos sem isqueiro (ou um pequeno exercício de imaginação, só pelo gozo!)



A mala castanha. O sorriso branco. Os pés encarnados no sapato. A cintura ligeiramente fina, a tender para o provocador, escondida sob um casaco de, não sei bem que tecido era, mas dava a impressão de ser grosso, e castanho. O seio contido. O cabelo escorrido e alinhado em baixo.

Deu para notar quando entrou naquela amálgama de fumo e barulho.

Pelo menos eu notei.

Estava sentado no meu canto, jornal aberto, cigarro em punho preparado para combater o tédio.

E, admito, repara no meu espanto quando te vi entrar, entre uma crise nacional e um atentado bombista, tu foste a única coisa que realmente me fez mossa naquele dia.

Saí transtornado. Afectado mesmo, como se tivesse sido despedido de um emprego que paga mal mas de que até gosto.

Na rua ainda ia dormente, ao ponto de indiferentemente não reparar em milhares de outras mulheres, talvez igualmente atraentes.

É costume nestes casos agir-se de acordo com um padrão de comportamento. Isto, traduzido numa linguagem mais vulgar, significa que todos os homens têm uma estratégia, não haja cá inocências, e eu tinha a minha. Já resultara, era arriscada, mas a única a aplicar em casos deste tipo, de "visões ocasionais": a "estratégia do pescador".

E a coisa até nem tinha muito que saber.

Quando era puto, o meu pai disse-me: o primeiro truque para apanhar um peixe é vir à pesca. Na altura como agora, parece-me demasiado óbvio, e senti-me estúpido, mas o velhote tinha razão. Então, nada mais a fazer do que tornar a aparecer, reproduzir todas as variáveis dependentes da experiência, e, como bom cientista que nunca fui, rezar para que ela apareça de novo.

Se eu já costumava ir àquele café, tornei-me um habitué.

Conheci a Dona Maria, a empregada de balcão que entra às seis da manhã e deixa dois na cama, já com o almoço pronto de véspera, e que tinha um sorriso muito simpático. Conheci o Lecas do Quinze, que ganhou o nome por só comprar jogo que acabasse em quinze – e nunca ganhou nada mesmo assim. Conheci o Osvaldo Tirinhos, um mutilado da guerra colonial, ao qual volta e meia davam uns flashbacks manhosos, e julgava-se ele no meio da selva e cada pessoa podia ser um turra à espreita. Havia também o Emídio Limão (e não era apelido, era nome próprio), um gago que era locutor de futebol em part-time. Conheci muita gente e a sua história. Só ela é que não. Tardava em vir.


Como acontece quando se vai à pesca, é mesmo quando estamos a arrumar as canas que sacamos uma bandeira com dois peixes no anzol, ou aquele sargo gordo que já é a segunda ou terceira vez que nos come o isco e dá de sola.

Pois, assim na pesca como na vida, já quase desistia de esperar por ti, sem fé na mudança das marés, quando, ouvindo cair algo, me baixei súbito para o apanhar, um isqueiro, como faço sempre, por educação, eis que dou de caras com esses sapatos vermelhos, tão meus conhecidos.

Parei um pouco, atordoado – como se tivesse acabado de perder o campeonato no último segundo.

Olho para cima, joelho no chão mão no isqueiro, e vejo os mesmos olhos, o mesmo cabelo, e um sorriso que sorria para a minha cara de parvo, ao ponto de a Dona Maria, ouvi-a no silêncio incómodo da clientela, dizer para o Lecas “ah!..., então é por isto que ele cá vinha tanto...”.

E ela, na mais ténue subtileza, fingiu que também não tinha ouvido, e recompondo-se da situação bizarra em que fora apanhada, olhou-me bem no fundo dos olhos e, jogando a mão à mala, a mala castanha dos meus sonhos, me pediu polidamente desculpa, e perguntou se eu não lhe podia arranjar lume.

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NPAF

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Descobri agora, por acaso, e, surpreendentemente, cai que nem ginjas no que o DACC disse


Valsa dos Sem Isqueiro

Acordei-te
Com um sussurro entusiasmado
Mas não deixei que me
Subisse a voz:

"Já chegaram
Os documentos do divórcio!
- Livremo-nos de nós"

Agarraste-me
E deste-me um beijo
De cortar o ar
E prometeste não voltar
Asseguraste a tua ausencia
Até que eu me esfumasse
Depois, já não sei!

Fui embora!
Mudei-me até de cidade
Não fosse às vezes haver um acaso
Encontrar-te
Já sob a forma de obra de arte
Ou mera flor de vaso

Retomaste o costume
De meter conversa pedindo lume
Foi assim que eu te conheci
Não tinha isqueiro
Mas como julguei ter sido o primeiro
Enamorei-me de ti

(Vozes da Rádio/ in "Mappa do Coração")

anda tudo à procura do mesmo...


No dia de S. Valentim (vulgo dia dos namorados), observei para um amigo meu "Já reparaste como cerca de 90% das mulheres que passam de mão dada com o namorado não parecem felizes?".
Porque de facto assim acontecia. Umas tentavam parecer doces quando não o eram, outras dedicavam-se a fazer "olhinhos" a quem passava, outras havia ainda que se limitavam a olhar para a frente...
E perguntava-me eu, se estas pessoas não são felizes, porque insistem em manter uma relação assim, presa no ténue fio da paciência? Será que estão à espera que este resista para sempre, ou esperam encontrar o amor mais cedo ou mais tarde?
Falo aqui do caso das mulheres simplesmente porque foi no que mais reparei, não é uma questão de sexos mas sim de personalidades.
Por outro lado, existem neste dia milhares de homens e mulheres chorosos, porque não estão com a pessoa amada, que preferiu outra pessoa, da qual se calhar nem gostava...
Porque continuamos a cair nestes mesmos erros? Como é que estas situações acabam por acontecer?

Motivo 1 - Saídas à noite (álcool, pressão social, ambiente propício, música de trampa...)

Quando saímos à noite, por todo o lado as pessoas se abraçam numa desmesurada busca de "alguém". Aturam-se conversas aborrecidíssimas porque a gaja até tem um bom corpinho, aturam-se bêbados intoleráveis porque hoje não se apanha mais nada...
Acaba-se por levar a feia para casa porque a gira foi com outro gajo qualquer, ou vai-se sozinho a chorar porque viste a pessoa de quem gostas agarrada a outro qualquer...
Quantos casos não conhecem de namoros que começaram em noites de bebedeira, em que já ninguém tinha verdadeira consciência do que se estava a passar, ou muitos fingiam não a ter como desculpa para qualquer eventualidade?...
Romances que começam na inconsciência e acabam no dia seguinte, pela hora do almoço, mas que, nalguns casos, irão durar uma vida inteira. Outros que não continuam por falta de vontade de uma das partes, para desgosto da outra pessoa. Outras em que tudo fica bem, porque ninguém ali queria algo mais sério.
Cada parzinho que vemos cambalear em direcção desconhecida às 3 da manhã está, consciente ou inconscientemente, a alterar a vida de um "X" número de outras pessoas, das quais se destacam obviamente
- as que estão apaixonadas por cada uma delas, em primeiro lugar, que irão ficar desgostosas
- os amigos com quem saíram, e que ficam contentes por ver que "aquele/a já se safou"
- os farmacêuticos, que vêm aumentadas as vendas de preservativos
- os bares, que vêm aumentado o número de pessoas que os frequentam, consoante o número de engates que por ali acontecem
- os hospitais, que, quando as bebedeiras são em exagero, também vêm aumentada a sua clientela
entre muitos outros...

Isto não é, de forma alguma, um apelo à reflexão sobre o que se deve ou não deve fazer! Nem sequer um julgamento se isto ou aquilo é correcto ou incorrecto... Aliás, se descrevo estas situações é porque já passei seguramente por algumas delas.
É muito fácil atribuir a causa de um comportamento que consideremos erróneo a qualquer outra coisa que não nós mesmos. O álcool (ou mais o acto de "sair à noite" talvez) é, simplesmente, um dos milhares de factores que, nalguns casos, levam a essa infelicidade.
E serei também o primeiro a admitir que é, por vezes, a causa da felicidade de muitos que, se não fosse pela bebedeira, nunca se chegariam a juntar.
Por isso, a próxima vez que se virem em alguma destas situações, reajam da forma que queiram, que eu farei o mesmo certamente.
Basicamente, este texto não serviu, não serve e não servirá para nada. Só naquela...

Aceitam-se outros e melhores motivos...
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DACC

imagem: http://quecassilenciosas.blogs.sapo.pt/arquivo/imta.jpg

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Ministro das Finanças manda bitaites pró ar...


Segundo notícia do Público, o Ministro das Finanças diz que o Governo vai adoptar "as medidas correctivas que forem necessárias" para reduzir o défice.

Diz ainda que "Estamos preparados para enfrentar as dificuldades que surjam no caminho", e que "a Comissão Europeia considera que o Governo português terá que adoptar mais medidas para corrigir o défice a partir do próximo ano".

A questões agora são muito simples:

1 - Que medidas correctivas serão essas, as tais "necessárias"? Isto é o mesmo que o meu pai me perguntar por onde tenho gasto o dinheiro e eu lhe responder "por aí"...

2 - Estamos preparados para enfrentar as dificuldades que surjam no caminho? Mas... se não sabemos quais serão essas dificuldades, como podemos estar preparados para elas? Será que eu, sabendo que posso, a qualquer momento, ter um acidente e ficar paraplégico, estou preparado para que isso aconteça?...

3 - A Comissão Europeia considera que o Governo tem de tomar medidas? Que medidas? Como? Porquê? Onde? Não será isto o mesmo que dizer a uma criança de 3 anos para tomar conta de si? Ela não vai perguntar como, mas também não vai saber o que fazer...

Já dizia Milan Kundera em A Imortalidade, que a política já não implica a gestão da polis, pois esta gere-se a si própria, mas sim a formação de pequenas frases, slogans, para calar a boca de quem vota.
E nós calamos, que havemos de fazer??? Somos burros e estamos cansados...
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DACC

imagem: http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1248430&idCanal=63

A Grande Saga de Zé Espadachim, o Rei das Pistolas


Ia o Zé Espadachim, de pistola na mão, quando encontrou pela frente o Chico Coxo, que era cego de um olho. Virou-se para ele com má cara e disse-lhe:
- Ouve lá, meu cabrão! Chega aqui! Então andas aí a dizer que me partes a tromba e não sei o quê? Andas armado aos cucos, é?
- Deves estar enganado concerteza. Isso é coisa do Manel Florinhas, o dono do talho da rua 25 de Abril.

Seguiram os dois caminho e encontraram o Paulo Cabeça-de-Aravela, que era o filósofo lá da terra.

- Amigos, que fazeis por aqui a estas horas armados até aos dentes?
- Vamos dar nos cornos ao Manel Florinhas. Anda para aí a dizer que me bate!
- Tal ocorrência é demasiado física para o meu gosto.
- Então põe-te na alheta antes que leves também por arrasto.

Nisto aparece o Zé Pernas, que era um mutilado de guerra que tinha ficado sem a perna esquerda ao fazer uma assada de chouriços na praça 1º de Maio. Vinha acompanhado da sua esposa, Maria de Jesus, que era a maior debochada da zona.

- Então oh Pernas, andas a fazer publicidade à tua esposa?
- Muito engraçadinho! Vou ali ao supermercado comprar um corta-unhas.

Foi então que chegaram finalmente ao talho do Chico Coxo:

- Chico! Então que conversa é essa de andares para aí a dizer que me bates e não sei o quê?
- Ah, isso é mentira! – disse o Chico ironicamente.
- Então dá-me aí dois quilos de bifes da pá do porco, se faz favor.
- Eh pá, já só tenho fígado do ananás.
- Então vá, pode ser.

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DACC

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Um texto que fiz há algum tempo para uma revista, e que até achei interessante pôr aqui, a ver se a coisa anima


A minha experiência com a cannabis começou em tempos de universidade. Foi lá que comecei a fumar os primeiros charros (numa casa de fotocópias à qual íamos, dizia-se “ver os amigos, e aproveitamos, tiramos umas fotocópias”), e a minha iniciação foi de facto positiva: sempre numa onda que eu defino como “boa”, não havia stresses se querias ou não fumar, não havia pressões sociais ou qualquer tipo de retaliação – queres fumar, és benvindo; não queres, continuas a ser benvindo (embora mais tarde eu me tenha apercebido que, mesmo sendo benvindo, há uma diferença de “ondas” entre o estar e não estar fumado que afasta inevitavelmente as partes – mas sem rancores ou hostilidades). Reitero a ideia: foi uma “boa” iniciação.

Acontece que durante o “auge” da universidade, morava eu numa residência universitária, foram para lá uns erasmus, dois espanhóis e um italiano - que quando de lá saiu, 6 meses depois, percebia menos de português do que quando para lá entrou. O quarto onde eu e mais um amigo estávamos era a modos que Bagdade: o axis mundi onde havia tudo menos multibanco e internet, e só não tínhamos multibanco porque não havia internet. De resto, era o sítio onde o pessoal ía depois do jantar para beber um café (sim, tínhamos máquina de expresso) ou uma mini (sim, no frigorífico escondido dentro do armário porque não era permitido, vá-se lá saber porquê, ter frigoríficos no quarto), e, inevitavelmente, fumar um ou três charutos.

Das estórias que por lá se passaram, se me lembro de metade, já é muito bom; e se dessa metade fosse a contar outra, o espaço estender-se-ía por demais. Lembro-me que, por cima da minha cama havia uma luz branca fluorescente, pequena, cujo candeeiro desmontámos para lhe aplicar um filtro de luz que um amigo nosso de teatro nos arranjou. Um filtro cor de laranja que, quando a moca era já elevada e os pés começavam a levantar-se com vontade própria subitamente do chão, nos dava a sensação de estarmos estendidos ao sol de Marrocos: deitávamo-nos na cama com a cabeça para os pés (da cama), mãos cruzadas atrás da cabeça, aquele sonzinho bom a tocar na aparelhagem, e, juro-vos, não sou só eu que o digo, naquele momento o tapete voador erguia-se flutuante e transportava-nos até às praias douradas da costa marroquina, onde o Mediterrâneo e o Atlântico se cruzavam sob o pano de fundo de um sol quente e acolhedor...

Certo dia fomos ver Manu Chao a Lisboa, frente aos jardins de Belém. Ora, numa viagem atribulada que começou com uma sardinhada onde o meu pai ficou 20 anos mais novo, passando pela visita à taberna de um primo meu, onde ele nos ensinou a falsificar aguardente velha, e até chegarmos a Lisboa, onde, em frente a um polícia que passava atrás de mim, eu, na minha inocente ignorância, gritava em altos berros 'Não!!, eu é que fiquei com a droga na mala!!., vá, despachem-se que já está pronto a rebentar!!” (... sim, infeliz...), a noite culminou em grande, numa multidão unida pela música e pelo cheiro a “sardinhas assadas”, como o DN noticiara no dia seguinte, e pelo bom feeling de um dia bem passado.

A meio do concerto, e depois de eu fazer (mais) um charuto a meio de uma música agitadíssima, toda a gente a saltar a meu lado, e eu, com a sopa na mão, não recebi, espante-se, um toque sequer, um dos músicos, o trompetista, desata a fazer rap numa outra língua, que eu entendi como italiano. Depois, do concerto, toda a gente a comentar, e viste aquele gajo assim, e o outro assado, eu digo, olhem, curti bem foi o tipo do trompete, a fazer rap em italiano!

Espanto geral! Todos olham para mim, sorrisinho ao canto da cara, não era italiano, drogado de merda, era marroquino! E riram-se, compulsivos e mocados, como aliás se faz sempre que apanhamos a bacorada de um. E eu ateimei, não, aquilo era italiano, vocês é que são uns drogaditos, e isto e aquilo..., o que não me valeu de grande coisa. Recorrentemente, quando nos púnhamos a lembrar estórias da moca, lá vinha o Ghande (que sou eu) que pensava que o marroquino era italiano, e que vê lá a moca do homem, enfim... o habitual. E eu, a páginas tantas, pensei efectivamente: se todos dizem que a parede é branca e só eu é que a vejo preta, às tantas eles têm razão, aquilo era mesmo marroquino e eu é que estava muito para lá de Bagdade concerteza!

Eis senão que um belo dia, mandou a sorte ou o azar, de eu estar a fazer um zapping vegetativo, e dou de caras com certo sujeito a falar no trompetista siciliano de Manu Chao, que faz rap em siciliano!! Imagine-se o meu ar de espanto, a minha dignidade vingada após tanto tempo, a vir ao de cima à medida que pego no telefone, e, singularmente, ligo a cada um deles e digo, 'sabes amigo, passou-se assim assim, e o sujeito, vá-se lá a ver, ERA SICILIANO, TOPAS?!! o que só pode significar uma coisa: afinal, quem é que era o drogadito ali, hein?!!!'.

Ah!, e era uma pergunta retórica.

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NPAF

domingo, fevereiro 19, 2006

Desencontros


É tarde, tenho que ir.
E despediu-se dele com um beijo, um beijo furtivo e cativo, que se arrepende do pecado e se abre ao desejo.
Adeus, disse ele, e ficou a olhar para ela à medida que apressava o passo sob a chuva miudinha de outono que caía lá fora.
Meteu a chave à porta, com muito cuidado. É tarde, pensou. A fechadura encravou, merda de porta que nunca abre como deve de ser. Vou acordá-lo. Mas não era preciso. Quando entrou já ele estava na sala, luzes apagadas, o pirilampo laranja do cigarro denunciava uma presença que queria ser notada.
Fez-se silêncio. Olharam-se no escuro. De um lado a luz dos candeeiros da rua que passava pelo postigo de vidros opacos esbatia o corpo tenro de uma mulher a entrar nos trinta, do outro, um bafo de cigarro que iluminava um rosto ríspido e triste com a barba rala por fazer.
Estás acordado, disse ela a medo.
Sim, não conseguia dormir.
Bem, eu vou-me deitar. E caminhou no escuro rumo ao quarto.
Estavam separados, muito embora ainda vivessem no mesmo tecto. A coisa até nem foi muito complicada. Não houve uma traição, uma desavença incurável, uma ofensa ou falta de respeito. Simplesmente acabou. Assim, do pé para a mão. Acabou como um maço de cigarros.
Os mesmo que se consumiam na sala sob a forma de tristeza .
O amor tem destas coisas. Manca o pé de um viajante se os dois caminharam o mesmo trilho, quando se separam.
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NPAF

sábado, fevereiro 18, 2006

Todos Querem Ser Carraceiros


Só falta o ministro italiano das Reformas, Roberto Calderoli, aparecer vestido com t-shirts estampadas com as polémicas caricaturas do profeta Maomé para poder entrar no clube dos carraceiros!

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DAEMON - carraceiro infiltrado

imagem: http://www.elmarko.re.it/immagini/1_roberto-calderoli_lap.jpg

Aviso à população - a gripe da carraça anda aí!

Cumprindo a nossa função de utilidade pública, outorgada ao presente blog por Sua Excelência, o Presidente da Carraça, vimos por este modo alertar para uma nova ameaça que se levanta um pouco por todo o país, e quiçá, pelo mundo.
Há pouco tempo foi detectado uma nova estirpe viral, conhecida como "Gripe da Carraça".
A gripe da carraça surge como a coisa mais letal desde os discursos do Fidel Castro, os comunicados do Freitas do Amaral ou as cascas de banana.
Em termos de sintomatologia, o virulento começa por sentir um leve prurido na região da virilha, onde consequentemente começa a coçar.
É neste momento que os bichinhos começam a espirrar, e a deslocação do ar que tal espirro provoca é a causadora de tão insana comichão.
A segunda fase do virus passa pela letargia imediata e um apetite insaciável. O sujeito pode igualmente começar a debitar loucuras como "Tenho que ir estudar" ou "Acho que hoje vou ficar em casa".
A terceira e última fase é quase instantânea. Poucos dias depois dos primeiros sintomas, ao acordar, o indivíduo sente o fígado queixoso, as articulações doridas e o cabelo despenteado.
Aí é já urgente a intervenção de uma equipa altamente especializada para o efeito, doutorada nas mais competentes universidades e centros de detenção da carraça - os CARRAÇEIROS!
E não se preocupe. Por artes extremamente científicas, os carraceiros são imunes à gripe das aves.
Se acha que pode estar a sofrer da gripe da carraça, não hesite e contacte-nos!

NPAF

Solidariedade para com o anterior Post




Eu na verdade sempre olhei para a expressão LOL como um contributo dos nossos amigos africanos para o enriquecimento léxico do "netish" (linguagem da net) ou "webish", e quiçá quem sabe do português.
Diria até, não me fossem acusar de um pragmatismo dogmático, de ter sido dado um importante contibuto para um avanço léxico-gramatical do "pretoguês" (tão conhecido, aliás, na Residência Rómulo de Carvalho)!
Desfanzendo o mito, para mim, LOL sempre singificou "Lambe Os Lâmina"!
E daí que, ao ver um sujeito dizer "G'anda nóia! LOL", ou "Que carga de galhofa! LOL!", a tradução sempre fosse "G'anda nóia! Lambe Os Lâmina!" e "Que carga de galhofa! Lambe Os Lâmina!".
Consequentemente, de um gajo que faz uma interjeição jocosa e depois me manda lamber uma lâmina, só posso achar graça, nem que seja por uma lâmina, ao natural, não ter sabor algum.
Então, naturalmente, e como a própria alocução sugere, eu ria a bandeiras despregadas porque lamber uma lâmina era uma experiência que nem nos meus sonhos mais selvagens apareceria, senão que para introduzir um elemento de bizarro e de pateta para fora do normal.
E ria, ria, ria!!!...
Tal e qual como se estivesse a ler uma banda desenhada do Rato Mickey, e, a páginas tantas, visse o Pateta, no seu balãozito, dizer "Iac! Iac! Iac!".
Assim era eu a rir.
Agora, dizerem-me que LOL significaria "Lot's Of Laughs", ou outra estrangeirice parecida e despropositada (como se fossem os americanos que tivessem inventado a internet quando toda a gente sabe que foram os serviços secretos de Angola), isso é coisa que me custa a conceber.
E vou explicar porque:
1) Angola é um país autónomo, independente, democrático, pacífico e ausente de influências de superpotências, que na altura necessitava de criar um sistema de transmissão de mensagens prático e eficaz entre a sua diáspora para difundir mensagens de importância vital como "Traz os camarão quando tu vier", ou "Jacinta, si tu mi está pondo os corno com o Vitalino, ti dou uma coça qui tu nunca mais ti levanta dos chão", ou mesmo "Neco, ti mandei trazer uma grade de minis prós obra e tu traz um pacóti di seis??!!";
2) O Governo angolano tinha também a necessidade de um mecanismo de voto que abrangesse toda a população, dispersa pelo imenso território, e acessível a todos, desde o planalto mais isolado até ao bairro de lata mais sobrepovoado;
3) E Deus criou assim a internet para que o povo angolano pudesse mais facilmente corresponder ao sonho de Bill Gates (que, curiosamente, adquiriu depois de um safari a Angola e um Benfica-Porto em directo pela RTP-i), ou seja, de ter, pelo ano 2000, pelo menos um computador em cada palhota.

Posto isto, e sabendo-se que alguns usuários da internet dizem que a expressão "LOL" quer dizer algo outro que não "Lambe Os Lâmina", afirmo e reitero a minha intenção solene de nunca, jamais, em tempo algum, voltar a utilizar a referida sigla para designar seja o que fôr, solidarizando-me com o anterior afixante do "post" (que em angolano significa "poste", isto é, "os sítio onde os malta vê os boneco di quem é procurado pelos Savimbi").

Solidariamente,
NPAF

Nota 1: que ninguém veja neste comentário mais do que um exercício de imaginação. O estado angolano jamais desenvolveu a internet.
Nota 2: não se pretende contudo dizer que a hipótese de a internet ter sido desenvolvida por cidadãos angolanos esteja posta de parte. Somente que essa não é a primeira opção.
Nota 3: também não foi o propósito do post ofender a cidadania angolana, ou a sua peculariedade cultural. Se algum mal foi feito, as desculpas são desde já apresentadas, ainda mais porque o autor do post não deseja ter que viver sob uma identidade falsa, à semelhança do autor dinamarquês das caricaturas de Maomé, cuja cabeça vale, segundo o regime taliban, 100 quilos de ouro.
Nota 4: as embaixadas portuguesas podem ser queimadas à vontade. O autor do post está-se verdadeiramente nas tintas para um Estado cujo ministro dos Negócios Estrangeiros repudia o comportamento hostil da liberdade de imprensa ocidental, mas não os ataques, perfeitamente justificados na sua óptica porque meras respostas de coitadinhos irresponsáveis que não sabem o que andam a fazer no mundo, ferozes e brutais a representações de países onde, ao contrário de Portugal, os favores da Igreja não se fazem sentir. Há, de acordo com o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros, que saber respeitar as diferenças, e lá diferente ele é. Diferente ao ponto de receber elogios do embaixador do Irão (o mesmo país que disse que "Israel deve ser banida da face da Terra" - não que não concorde de algum modo com ele, mas apenas por razões diferentes).
Nota 5: quarta-feira é noite da bebida branca a 1 euro no La Rumba!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

LOL!!!

algumas das expressões mais estúpidas que já encontrei seguidas de "LOL" e breve comentário sobre a expressão.

muito boa! LOL!
tá altamente! LOL!
ih ganda maluco! LOL!
TÁ BRUTAL!!! LOL!!
espectáculo!!! LOL!


LOL! LOL! LOL! LOL! LOL! LOL! LOL! LOL! LOL! LOL! LOL!

Tentei começar a aplicar este e-termo (porque hoje tudo é e-qualquer coisa, o meu jantar foi, inclusivamente, um belo dum e-frango assado que me e-saiu pela e-motherboard a e-fora) na vida real e junto de pessoas que normalmente o usam, e os resultados não foram muito satisfatórios.

De onde veio o termo? O que significa? Porque não um simples "Ahhahahaha"?
Porque "Lots Of Laughing" ou "Laughing Out Loud" me parecem demasiado simples... e a mim não me enganam... Para mim é mais "Libertinagem Ou Lambe-botismo"

Aceitam-se conspirações e teorias para o significado desta mensagem do demónio (que a mim não me convencem de outra coisa!).
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DACC
ou
António Ferradura (LOL!)

imagem: http://grito.blogs.sapo.pt/arquivo/vaca.jpg

A Vida Foi-se (Em Duas Metades)

Metade Direita

Tenho a vida toda para trás
E o que mais me apraz a esta distância
São os pequenos focos de luz que me espreitam da janela
Enquanto que a neve descongela ao seu ritmo parnacento
Junta-se agora a chuva ao vento, o azul já brilha de manhã
E ao relento treme o tempo que novo dia apregoa
- Que isto assim não se resolve, grita a mãe para a filha à toa
Na esperança de aceitação dogmática ou de um simples gesto com a mão.

Agora chove, o rio apressa a sua corrente
A voz ecoa – tens a vida toda pela frente, não te percas no caminho
E vai fugindo com um aceno – até logo e um beijinho
Parte indiferente à angústia de uma mãe desconsolada
Que no ventre sentia ainda o duro coice do feto
De quem seria um dia aquela menina desnaturada
A quem a vida daria um tecto, uma família e uma mesada
Que o tempo passa e não se afoga.

E lá ao longe, de repente
O rio acalma a sua torrente, sai o barco – vai-se embora.
Marcada estava a hora, lá ia a menina dos seus olhos
Do seu ventre e da sua mama
A quem tão cedo não faria a cama
No doce protesto da sua revolta minguada de mãe
- Que enquanto te queixas de sair com trela
Eu fico em casa a trabalhar que nem uma cadela.

E na ausência trémula de queixo caído
A máscara assenta à chegada do marido, a quem a indiferença parece ter talhado
- Não me chateies que venho cansado.
A mágoa aflora pela hora do jantar, mesa posta só para dois
Com a consciência de tudo o que acontecerá depois
Desde o dia da partida ao regresso, suspirando a cada notícia…

Metade Esquerda

Acordas hoje já bem tarde, que o dia é igual ao de ontem
E por muita novidade que te contem, nada se detém em invulgar suspiro
A viagem é curta e repetitiva quando se voa de asa partida.
Respiram-me agora no pescoço o café da manhã,
que pouco a pouco se tornou obrigação.
Vejo as cores e as pinturas nas paredes, mas tudo se mantém intacto
Perderam o sentido na sua insistência renitente de quem tem pouco que dizer e muito que demonstrar.
Gritam-te ao ouvido que o açúcar é prejudicial
No momento em que a vulgaridade de atinge de forma sobrenatural
E ali ficas, estatelada no chão, com o corpo dormente,
fisicamente ainda sentada ao balcão.

Vê-se o barco lá ao fundo com a faixa do regresso
O lenço já não é branco, nem de veludo nem de cetim
Apara a lágrima de uma alegria melancólica
Como que dizendo que quem chora de felicidade abraça a dor por engano
E naquele húmido pedaço de pano, a saudade de uma existência furtiva
De uma vida trabalhada e inactiva de dar sem nada pedir ou receber
Como quem pauta o riso pela dose de sofrimento enfrentada
Segue o carreiro para não ter de pisar a estrada
Que o alcatrão se faz pântano para alguns.

É curto o abraço, que a saudade não se expressa em quantidade
- Que tal correu esse tempo de liberdade onde pudeste caminhar sem trela?
- Foi fantástico na sua ilusão de quem pode finalmente pisar o chão, sem ter de o olhar pela janela.
E são facas que se alojam no seu peito a cada palavra sussurrada
Que trazem a memória de uma vida enclausurada ao seu interminável sacrifício
Corpo de miséria e suplício que agora se entrega à apatia reconfortante do amor
- Trouxe-te uma flor e uma garrafa de vinho para o pai.
- Muito obrigado, não era preciso. Uma lágrima escondida no seu peito aberto cai.

- O tempo não se esvai, é aproveitado consoante tem de ser.
Que me interessa pensar, se o destino de todos é morrer?, já dizia o meu avô.
As vidas passam, e com elas as crises, os desatinos, os amores e a vertigem
De correr depressa demais, sem ligar ao pó e à fuligem.


DACC

Cannot find the damn server!!!

Os pés descalços

I

"Avé Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo, bendita..."

A ladainha tão conhecida de Rita vinha da cozinha, onde a ama de joelhos, bradava aos céus um sms com a chave do Euromilhões.

"Estranho", disse ela para si mesma, "ainda não vi Deus, nem Maria, nem Jesus, nem o Diabo, nem sequer o meu avô...". E flutou, rumo à cozinha, zonza, discreta, espantada com a leveza dos seus passos que pareciam nem tocar no chão.

E lá estava a ama, a rezar com toda a fé que uma vida pobre lhe dava.

"A menina não devia andar por aqui descalça.".

Rita parou.

Olhou para ela, inclinou a cabeça, esboçou uma expressão de estranheza, como se lhe perguntasse como é que ela a ouviu.

"E eu não a conheço desde que nasceu? É quase mais minha filha do que dos seus pais, perdoe lá a expressão.".

Outro esboço. Um sorriso, agorra.

"Lembras-te, Mila, de eu te dizer como eras importante para mim?".

"Ó menina, então anda outra vez com essas conversas?, vá, andor daqui que já me dá arrepios só de a ouvir falar desses modos! Toca mas é de ir calçar as chinelas, e ponha umas meias também, que a noite hoje anda à solta!", e virou-se enquanto punha ao lume um bule cheio de água.

"A noite anda à solta", pensou Rita.

II

AArrrggggghhhh!!!....
Um grito estridente ouviu-se de um dos quartos.

Quando a ambulância chegou pouco depois já não havia nada a fazer senão recolher o corpo, gelado, frio.

Os lábios azulados, a cara cinzenta, o corpo despido e peganhento do sangue seco que escorreu pelos pulsos. Os olhos fechados, como que a dormir a mais serena das noites. E um leve sorriso esboçado. Enigmático. Como se naquele momento a morte fosse o seu amante eterno que por fim a aconchegou nos seus braços seguros. Os pés marmoreamente descalços. Brancos e belos.

Dizem que a criada comprou a casa pouco tempo depois.

Dizem que ainda hoje são grandes amigas.

Mas... vá-se lá acreditar no que os outros dizem?
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NPAF

O meu prefácio ao blog - por NPAF

A luta dos blogs é feroz quando menos se espera.
Tal e qual as carraças.
Não que se pretenda andar aqui numa de vingador, salvador da pátria, justiceiro implacável, sei lá, um sebastianismo oculto mascarado de Zé do Telhado.
Népia.
Não faz o meu estilo.
Está fora de moda.
Carraceiros porque sim.
É que, ele há coisas que simplesmente não precisam de uma resposta dita "racional", ou "lógica".
Ou talvez que aqui a "racionalidade" e a "lógica" sejam de uma outra ordem, bem mais coerentes connosco mesmos.
Neste plano, não somos nós que nos dobramos para poder passar pela cancela da lógica, mas a própria lógica que se vê e deseja para que passemos.
Carraça: é um bicho que chupa o sangue e provoca febre.
Não é preciso saber mais!
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NPAF

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

quem é um verdadeiro carraceiro? - por DACC

Se as pessoas se preocupam demais é porque não têm preocupações que cheguem na sua vida.

Se as pessoas não têm preocupações que cheguem na sua vida é porque sentem que não têm grande coisa em que pensar no seu dia-a-dia.

Se não têm grande coisa em que pensar é porque são razoavelmente ignorantes, podendo esta ser ou não uma opção ponderada.

Se ponderaram essa situação é porque não tinham nada mais interessante em que pensar.

Se não tinham nada mais interessante em que pensar é porque tinham demasiado tempo livre, que faziam questão em não tentar ocupar.

Se não tentaram sequer ocupar o tempo é porque gostam de se preocupar demasiado com as coisas, para assim poderem ter a desculpa de estar sem fazer nada, porque o pensamento é tão abstracto que não dá para perceber se ele está realmente a acontecer. Os pensadores são os únicos que podem estar sem fazer nada sem que alguém lhes possa atirar esse facto à cara.

Se estão sem fazer nada e continuam a ter as mesmas necessidades das outras pessoas, é porque andam a ser alimentados sem dar nada em troca.

Se andam a ser alimentados sem dar nada em troca, são carraceiros.

Eu sou um carraceiro.
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DACC

Carraceirices...

Estamos aqui para acarraceirar, como bons carraceiros que samos.

Quem tiver comichão que coce, quem tiver ameijoas que se esfregue contra as paredes.

Quem tiver escorbuto, que se afaste porque isso deve de aleijar como o caraças.

Sempre abertos a novas carraceirices.

Não acarraceirarás os outros que não querem ser acarraceirados, mas isso é conforme.

Pois.