terça-feira, maio 30, 2006

Só vos digo uma coisa...

Schadenfreude

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NPAF

sábado, maio 27, 2006

Super Bock Super Rock 2006 - 26/5/2006

às 18h entravam (pontualmente, de salientar!) os Primitive Reason em palco. foi um bom concerto, sem grandes novidades, de onde se salientam os temas mais antigos. repetem-se um pouco mas enfim, deu para aquecer...
no palco secundário, os dapunksportif davam um concerto que passou ao lado, stoner rock sem grande brilho, canções não muito boas e repetitivas.

eram 19h25m quando os Alice In Chains subiram ao palco e se ouviram as primeiras notas do baixo de Mike Inez. Rain When I Die emocionou o público, e até Man In The Box, os temas foram fluindo com naturalidade. foi um concerto emocional acima de tudo, e William DuVal aguentou-se bem no lugar do falecido Layne Staley.

setlist:

Rain When I Die
Dam That River
We Die Young
Them Bones
It Ain’t Like That
Again
Junkhead
Down In a Hole
Rooster
Would?
Angry Chair
Man in the Box

If Lucy Fell berraram o que tinham a berrar e saíram do palco...
Deftones desiludiram pelo atabalhoamento do som, que não deixa perceber a canção no meio de tanto instrumento embrulhado... o alinhamento também não me pareceu bem escolhido, e ia-me deixando dormir aquando da versão de Sade (!). Fraco...

setlist:

korea
feiticeira
beware of the water
mos
bqad
passenger
change
wgtb
hexagram
bloody-cape
engine nº9
root
birthmark
nosebleed
no ordinary love
can't even breathe
7 words

X-wife foram vulgares, acima de tudo britânicos, na onda revivalista do pós-punk dos anos 80... aceitável...
os Placebo foram profissionais demais... chegaram, tocaram, foram-se embora, voltaram e foram-se definitivamente... o alinhamento do concerto veio confirmar que o novo álbum é o mais pobre da sua carreira, os 8 temas lá tocados provaram isso mesmo. destaque para twenty years e nancy boy no final... um concerto mediano...

setlist:

"come home" "nancy boy" "every you every me" "special k", "taste in men" "the bitter end" "20 years" "meds" "infra-red" "drag" "space monkey" "one of a kind" "song to say goodbye" "because I want you" "post blue" (não por esta ordem)

os Vicious 5 bem tentaram puxar pelo público, mas a ânsia de todos pelos Tool não permitiu uma resposta adequada à actuação. o estilo não traz nada de novo, as canções não são assim tão boas quanto isso... enfim, muito british accent... mediano

e por fim, os Tool. que concerto! Maynard James Keenan canta atrás de todos os membros da banda, com 4 ecrãs por trás a transmitirem imagens típicas de quem conhece os videos dos senhores. um concerto que foi um portento de energia e de emoção. as canções são enormes em tudo, e a actuação não desapontou em nada. destaque para a lindíssima Right in Two do novo álbum e para Lateralis, que hipnotizou durante os seus 10 minutos... que regressem no outono, como se ouviu no final do concerto...

setlist:

Stinkfist
The Pot
Forty Six & 2
Jambi
Schism
Right In two
Sober
Lateralus
Vicarious
Ænema
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DACC

sexta-feira, maio 26, 2006

Diario da Queima: Dia x - TAUE's dinner




Para ser sincero, nem sei bem que escreva acerca da noite de ontem.
Como podem ver através do título, ontem não foi bem o concerto que ficou marcado.
Mas vá, a propósito dos concertos, uma ou outra linha...
O primeiro não vi, o segundo não me lembro.
Já está!

Agora, acerca da noite!

Foi gira, divertida, e engraçada.
Entrei na fase deambulante, o que significa que não presto grande atenção a quase nada senão aos amigos mais chegados e a uma ou outra gaja.

Ontem, a toda a tipa que estivesse debaixo da tenda da TAUE na Queima, perguntava "quem és e o que fazes aqui?". Algumas olhavam para esse momento de sinceridade como uma pergunta brusca e embrutecida, mas... azar!

Hoje, que Deus me abençoe com o dom da ubiquidade.
Senão vejamos o meu "schedule":
1) jantar de piso;
2) jantar de queima do Vasco;
3) mariscada com a Tuna;
4) encontros aleatórios com gajas;
5) tempo de descanso e reposição de sono.

E, já que Deus, na sua grandiosidade, me vai abençoar com o dom da ubiquidade, que me dê também o toque de Midas, e envie guito, muito guito!!!

Adeus e até amanhã!
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NPAF

quinta-feira, maio 25, 2006

Discos de 2006 - Recomendações

para os mais distraídos, para os que às vezes não sabem que álbuns hão-de "comprar" e acabam por ouvir sempre a mesma coisa, aqui ficam as recomendações do melhor que saiu este ano no mercado discográfico. a opinião é estritamente pessoal, claro.
Tool - 10,000 Days
um álbum excepcional a todos os níveis. as músicas são complexas, mas a melodia está lá, assim como a canção. para ouvidos atentos...

Sickoakes - Seawards
os adeptos do pós-rock irão considerar este álbum como uma das revelações do momento. sim, é instrumental. sim, as músicas são longas. sim, a fórmula não é nova, mas resulta de forma sublime. viciante do princípio ao fim. para quem gosta de ouvir música como paisagem. as referências são óbvias, Godspeed You Black Emperor!, Mogwai, Slint... a não perder. Divinal!

Sonic Youth - Rather Ripped
diziam alguns aquando do lançamento de NYC Ghosts & Flowers que os SY estavam a tornar-se demasiado experimentais para alguém os querer ouvir... como estavam enganados. Murray Street calou-os pelo grande álbum que era, e Sonic Nurse completou a trilogia. para o novo álbum, os Sonic Youth conseguiram (após 24 anos de carreira) juntar um conjunto de canções melodiosas e apelativas, surpreendendo pela maior contenção das explosões sónicas das guitarras de Thurston Moore, Lee Ranaldo e Jim O'Rourke (que se veio a mostrar uma excelente adição). mais melódicos que nunca, com a mesma qualidade de sempre, capazes de apelar a outros públicos.

novos episódios desta saga no futuro. até lá, enjoy!
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DACC

Diário da Queima - Dia 4: Micro Audio Waves e Legendary Tiger Man




Ao iniciar mais esta entrada, deixo já a conclusão: como é que tão pouca gente consegue fazer tanto barulho?
Não me refiro ao público, que era na realidade pouco, menos até do que no dia de Wraygunn, mas sim às bandas.
Os Micro Audio Waves são compostos por 3 pessoas, 1 na caixa de sons, outro na guitarra, e a vocalista. Electrónico do bom. Assim, directo e objectivo.
Legendary Tiger Man é o Paulo Furtado mais uma guitarra, dois/três pedais e maquinaria. Rock, mesmo rock.
Estava pouca gente, mas ali só foi quem queria. E devo dizer com sinceridade: que concertos fixes!

Hoje é noite do fumício, para jovens activistas anti-globalização, e outros idealistas que tais, que não podem passar sem o seu telemóvel.
Terrakota e Mercado Negro.
Oxalá hajam boas vibrações no ar...

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NPAF

quarta-feira, maio 24, 2006

Diário da Queima - Dia3: José Mendes (e as suas bailarinas) e Quim Barreiros




Ontem foi um dia inesquecível para a música.
Ter reunidos no mesmo palco nomes como João Brasa, José Mendes, e Quim Barreiros, é um daqueles momentos raros que é certamente digno de nota.
Mas por onde começar?...

Vamos primeiro pelo panorama geral da noite.

A noite do porco, do vinho e do fado é noite de raízes nesta academia.
É a única noite em que se pode curtir música pimba sem se ser discriminado. É a única em que o "mitrol" sai à rua e faz a sua aparição tão efusiva quanto marcante. Há bifanas e caldo-verde à pala, e mesmo que já faltem as senhas, dois dedinhos de conversa e um sorriso bonito para a menina que está a servir os comes derruba muitas barreiras.

Ontem havia no hipódromo um clima muito "campestre". A dado momento quase parecia que aquilo era um mega-baile de aldeia (até tocaram o "aperta aperta com ela", vejam só!), e as hierarquias chegaram mesmo a subverter-se: quem tinha mais pinta não era o que se vestia assim ou assado, quem fazia isto ou aquilo, mas quem sabia dançar, quem tinha a "tarimba dos bailes".

E foi bastante divertido verificar isso, que ainda se pode descomprometidamente, apreciar um belo bailarico nos tempos que correm, e que definitivamente, este que vos escreve ainda tem muito a aprender na arte do "dfança-dança, roça-roça, mexe-nexe".

Agora, os artistas.

João Brasa fechou a "noite de fados". Trazia consigo um cadelão enorme, volumoso, bêbado, ao nível daquilo a que nos habitou nos salões da Sociedade Harmonia Eborense.
Como sempre, disse que tinha um cd gravado, tentou vender ao público com a tradicional "já sabem que se quiserem, tenho ali uns cd'zitos para vender, que um homem tem que viver..."!... Ai, João Brasa, se tu vivesses com o que te dão os cd's, usavas o 42 de calças!

Adiante.

José Mendes (e as suas bailarinas) deu um show bastante misto. Ora um original, ora um Tony Carreira, ora outro original, ora mais um Diapasãozito...
A voz, horrível; a afinação, não existia; a pose, caótica. Mas não obstante, uma sinceridade qualquer de estar a fazer algo que gosta.

É que, reparem, ontem o José Mendes ensinou-me isto: que até o mais hediondo dos sonhos pode tornar-se realidade. E ele é a prova viva disso: um farmacêutico (ou ajudante de farmácia) na casa dos trinta e muitos, pequenino e pinante, com uma péssima afinação (mas quando deu um toque no cante alentejano, espantou-me!, repito, espantou-me e bem!), péssimo sentido de palco, sem ritmo, sem nada senão uma enorme vontade e um sonho de querer fazer seja lá o que fôr que faz, mas o que importa é que faz.

O José Mendes ensinou-me ontem que todos os sonhos são possíveis, todos sem excepção, e que Deus premeia aqueles que tentam, os perserverantes. A democracia do Sonho é tanto mais real quanto os nossos ouvidos se apercebem da sua dura e cruel realidade. E, se na arte que o senhor perfilha, não o posso acompanhar, ao menos no facto de ele ali ter chegado, aí haverá sempre um lugar no meu coração para exemplos como o José Mendes.

O último concerto da noite esteve a cabo de Quim Barreiros, o "Jaquim", ou "Quinito", como alguns lhe chamaram ontem.

Marcou pontos assim que entrou em palco, disse logo, "aqui quem quiser cantar, canta, quem quiser dançar...". E as pessoas gostaram dessa sinceridade. O povo geralmente gosta.
O concerto continou, medley aqui e ali (porque os acordes são sempre os mesmo), e a poeira levantou, as vozes ergueram-se juntamente com os copos de vinho e as sardinhas assadas, e a multidão rejubilou!

Hoje não houve notas nem avaliações para ninguém, todos passaram, todos vingaram, até aquela rapariga de óculos que me puxou a dançar e me deu uma trapada de dança irrepreensível.
Graças a ela poderei aspirar a dominar as praças deste nosso Portugal em festa!
E sabem que mais?, até pode ser que venha a acontecer...

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NPAF

terça-feira, maio 23, 2006

Diário da Queima - Dia 2: Squeeze Theeze Please e Xutos & Pontapés




Mais uma entrada neste diário da Queima.

Antes de mais, uma nota para refrear os ânimos.: o título induz em erro. Às horas a que cheguei não tive oportunidade de ver os Squeeze Theeze Please (STP). Quando entrei no perímetro de sonoridade do recinto, ou seja, perto da piscina da Aminata, ouvia-se a célebre cantilena com letra profusa, "Hey, hello, my name is Joe, I live next door. Hey, I'm your neighbour".
Assim, tal como disse Wittgenstein, acerca do que se desconhece, deve-se calar.
Portanto, os STP ficarão fora da avaliação, ou seja, têm direito (os sortudos) a passagem administrativa.

Falemos de Xutos e Pontapés.
Um concerto regular.

Confesso que para mim, Xutos & Pontapés não é novidade (e para quem será? eheheh...). Já os vi uma porrada de vezes, por contingências várias que agora não importa trazer a lume, há anos que eles têm o mesmo espectáculo (mas mesmo há muitos anos), e quanto a esta performance, não estava especialmente motivado para os ver.

Epá, mas entrada garantida e um compromisso fiel para com a actualização deste blog na sua forma diária, lá me arrastaram até ao recinto da Queima, tão perto da minha casa.
Portanto, foi um concerto regular. Previsível no alinhamento (os "contentores" como última música do último encore foi coisa que nunca me passou pela cabeça que eles fizessem), surpreenderam apenas pela inclusão de uma música, o "Mãe". Por breves instantes, quase que os vi com menos 20 quilos cada um, com mais energia, num retorno quase onírico à génese dos Xutos... pura ilusão! Estã0 velhos, gordos, e já se estão a cagar para o rock. É preciso agora é arranjar dinheiro para pôr os putos na universidade e pagar a hipoteca da casa.

E pronto, foram os Xutos... apenas de realçar uma breve nota introspectiva: até compreendo porque é que a gaiatagem toda estava aos pulos, gritos e urros. Para além de serem um pouco ocos, e terem um conhecimento musical um pouco insípido (o público), os Xutos são uma das poucas bandas portuguesas com um aprumado sentido de palco. Eles sabem o que o público quer, como se comporta, como provocar até ao ponto mais latente para depois descarregar toda a energia. A partir daí, é só reprodução técnica...

Xutos & Pontapés: 14 valores.

Nota positiva, mais uma vez, para a tenda Dance.
Não sei sob que nome actuava, mas o mestre 14 mudou de área (outro gajo que também tem um óptimo sentido de auto-promoção...), e virou-se para o dance. Fez um grupo, contratou umas miúdas para dançar, as letras não são nada de especial, mas há ali um qualquer toque de Midas... Enquanto curtia, dizia para os meus botões, um dia os meus filhos vão-se espantar de eu ir falar ao 14 na rua, e então, para ficar ainda melhor aos olhos dos putos, vou dizer, 14, toca aí uma daquelas que tu sabes, das outras, e então aí é que os miudos me fazem uma estátua à porta de casa.

Nota extremamente positiva para a rapariga que estava no grupo de amigos (ou eu é que estava no grupo de amigos deles... já não sei bem), a Maria de Lurdes, ou Luzinhas. De 0 a 20, dava-lhe um 43!
Eia, mulher boa a perder de vista!!...

Hoje, senhoras e senhores, é dia de campanha de vacinação pública, como o meu amigo Manu lhe chamou, através da ingestão do denominado xarope "Mitrol".
Há quem lhe chame vinho, mas isso é só rumor. Não existem, até ao momento, provas de que haja uva na sua composição.

Noite do porco, do vinho e do fado, com João Brasa, artista em decadência desta cidade que anda sempre com um cd no bolso para mostrar a quem passa; José Mendes e as suas bailarinas, ou como um farmacêutico pode ser feliz e não tem que se acostumar à ideia de que aviar receitas terá que ser a sua ocupação para o resto da vida; e Quim Barreiros, ou "olhem para como vive um dealer reformado".

Até amanhã!

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NPAF

segunda-feira, maio 22, 2006

Diário da Queima - Dia 1: Yellow W Van e Wraygunn




Começou ontem (para mim, entenda-se) a Queima 2006.

Facultado do belo passe de jornalista que a profissão facilita (ei, não pode ser só trabalhar sábados domingos e feriados a preço de saldo!), dei por mim a caminhar para o recinto quando já quase tudo apontava para mais uma noite de relax a levar a Juventus ao topo do futebol mundial.

Primeiras impressões: o recinto está mais pequeno, isto é, diminuíram o perímetro do recinto ao puxarem os bares mais para o centro. Em termos práticos, talves evite o sentimento de dispersão como aquele proporcionado pela noite de ontem, onde não deviam de estar mais de 800 pessoas, e isto já muito bem puxadito. Enfim, um domingo, a crise, a crescente falta de alunos, tudo contribuiu para isso. O que nos leva a concluir que cerca de 60% dos assistentes estavam lá mesmo pelas bandas.

Mas, inferências perfeitamente subjectivas à parte, sigamos para os concertos.

Yellow W Van foi um pouco banal. Hip-Hop tuga, muito à moda de Da Weasel (ouvi-los a dizer "a carrinha está a chegar" deu-me umas certas reminiscências dos outros que se dizem "a doninha").

As letras muito politizadas, muito "bem", muito "contra o sistema" e "levantem-se e revoltem-se", mas a farpela dos meninos dava a entender uma infância bem mais privilegiada do que aquilo. Mais um efeito da geração "Morangos com soda cáustica".

Sempre no mesmo registo hip-hop, não conseguiram surpreender em nada (aquela guitarra ritmo estava para cá do básico, até num encontro de lobitos, escuteiros à roda da fogueira teriam mais imaginação), nem no "beat-box" (hipoteticamente) improvisado (ai que saudades do Gabriel O Pensador e o seu "É-Évo-Évora!").

Terminaram tarde, demasiado tarde para um som que qualquer reprodutor de discos compactos ou órgão casio pode replicar na perfeição.

De 0 a 20 (porque afinal é uma Queima, e o sistema de avaliação assim o pede), levam um 11. E é porque estamos em ambiente de festa, que ninguém gosta de chumbar com 9.

Perante este parco cenário de ideias na primeira parte da noite, os Wraygunn surgiram como uma lufada de ar fresco. Em termos relativos, isto é. Estiveram à altura do nome que já criaram na cena musical portuguesa/europeia, ou seja, rock, muito rock, mesmo rock. Descomprometido e ao mesmo tempo vinculado à nova pop britânica. Com um traço original e repetitivo (não terão abusado do microfone distorcido?).

Paulo Furtado, vocalista e guitarrista com um ego maior que a sua altura, lá deu o "show da vedeta", despiu-se, foi ao público, perguntou o que é que precisavam para serem felizes... enfim, a droga consegue fazer milagres...

Não obstante, conseguiram pôr o público a mexer com alguns dos temas que (ao que me disseram) já rodam na MTV, mostraram personalidade e carisma (e não, não só o Paulo Furtado). Valeram como grupo e como individualidades dentro dele.

Em termos de avaliação, digamos... um 15. Beneficia esta nota do factor comparativo do "agrupamento" anterior, mas ei!, quem disse que a vida era justa?...

Nota positiva também para a Tenda Dance, com um DJ um pouco óbvio nalguns pontos, mas que cumpriu a missão que lhe estava destinada.

Nota negativa para o Staff. Desaparecidos e dispersos durante os concertos, devem, como porteiros de discoteca que são, ter sentido aquele apelo gutural de voltar ao ambiente materno, e invadiram massivamente o espaço da Tenda Dance com a sua presença ofensiva e pose agressiva, à procura de malfeitores que estivessem a fumar charros, vendo se pela intimidação lhes caía alguma coisinha em sorte, e perfeitamente coniventes com outras situações menos boas.

Enfim, ou a organização não lhes paga o suficiente para investirem eles na sua própria droga, ou
então os rapazes, como alguns seus (quadrúpedes) semelhantes, não se conseguem libertar do seu instinto...

Para hoje, temos Squeeze This Pleaze (será assim que se escreve?) e Xutos e Pontapés.
A ver o que sai dos primeiros, que para os outros, os velhinhos, já não há pachorra!

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NPAF

sexta-feira, maio 19, 2006

Reflexões aleatórias

O José Gomes Ferreira costumava dedicar ou "motivar" alguns dos seus poemas à "Mulher Inventada".
Posso até estar de acordo com ele.
De certa forma, todas são mulheres inventadas. Mesmo que existam, há sempre uma construção que fazemos sobre a sua pessoa, um misto de aplicação de uma camada de expectativas ao desejo de sermos felizes. É egoísta e perfeitamente legítimo: afinal de contas, quem é que não quer ser feliz?
Há pouco tempo falava com um amigo, sobre o que é que as mulheres queriam.
Naquele caso concreto, estava em causa uma estratégia de aproximação a (mais) uma "aquela".
E eu, do topo da minha ingenuidade (?) respondi, o que as mulheres querem é ser compreendidas. E não queremos todos isso? alguém que nos compreenda, que nos ame incondicionalmente, que esteja connosco quando estamos em baixo, que partilhe connosco os bons momentos (porque os bons momentos só fazem sentido se os partilharmos, ou por outra, fazem mais sentido se os partilharmos)?
O problema está em que, muitas das vezes, parece que queremos forçar aquela pessoa a ser quem nós queríamos que fosse. Como se estivéssemos quase a completar um puzzle de 5 mil peças, e ao fim víssemos que nos enganámos e então forçamos peças a caber onde não pertencem. E a coisa fica bem composta, bem disfarçada, parece quase que aquele pedacinho ali completa a vegetação densa, e a não ser que se olhe atentamente, ninguém nota, e o nosso sucesso é quase total.
Mas só para os outros. É claro que no fundo sabemos bem a trapaça que fizémos.
A merda com o amor é que não temos que dar justificações a ninguém, nem sequer o temos que exibir. É autenticamente nosso, para nós, único, pessoal e intransmissível, tipo bilhete de identidade, mas sem documentos. Com o amor, o engano da peça forçada resulta numa frustração mais cedo ou mais tarde insuportável. E a nossa felicidade dependerá da capacidade (ou não) de nos iludirmos. A lucidez e a estultícia sempre estiveram associadas à felicidade e miséria, e não por esta ordem respectiva.
Será que o problema está na peça que inventamos ou na mulher que não nos quer caber no espaço?

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NPAF

quinta-feira, maio 18, 2006

E agora só para terminar...

Entre ser engolido por uma baleia, e ser enraizado por uma flor, não sei que faça.

Lá por termos sido engolidos por uma baleia não implica necessariamente que façamos a digestão, e mesmo as flores podem criar raízes sem que apertem demasiado a terra onde se plantam.

E mesmo que o segundo divórcio do Paul McArtney (será assim que se escreve?) esteja agora a dar na televisão à medida que escrevo, mesmo que a Margarida Rebelo Pinto (que não me levante um processo por eu plagiar o nome da outra, a verdadeira) tenha páginas que se repetem, nada importa. Pelo menos para mim. Tanto se me dá como se me deu.

(e ela diz que todos os escritores se repetem e que o Eça de Queirós para escrever Os Maias teve que escrever A Tragédia da Rua das Flores!)

E temos uma portuguesa condecorada pela rainha de Inglaterra por regar os cemitérios.

E nestas coisas todas, a Bíblia e a Outra vacilam na corda bamba das minhas certezas.

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NPAF

Cara B

Si cuando vuelves a casa
me ves sombrío,
dándole vueltas al vals
del desconsuelo,
ten compasión de esta falta de luz,
hoy soy una moneda que tiene dos lados de cruz.

Y si me notas lejos estando
a tu lado,
como una réplica mala
de lo que yo era,
tómate en broma mi salto mortal,
hoy soy sólo una copia y tu tienes el original.

No le hagas caso
a tanto misterio,
vos ya sabes la verdad;
que no hay nada peor para esta seriedad
que tomársela en serio.

Deja que hable
tu cercanía,
vos conocés la razón,
y no hay nada peor para este corazón
que una casa vacía.

Deja pasar
esta falta de fé,
este disco rayado que hoy tiene sólo
cara B.


Jorge Drexler/
in Llueve

Milu, cabeleireiro africano unissexo

Antes, quando as flores cresciam à beira da estrada
Antes, quando o carreiro ainda se formava de espezinharmos as ervas
Antes, quando as silvas davam amoras que davam diarreia de as comermos quentes
Antes, quando as vespas picavam das pedradas aos ninhos

Antes, mas sem boa ou má memória, só e apenas antes

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NPAF

quarta-feira, maio 17, 2006

Flash's



Deixámos o cabo assim que pudemos. O cheiro putrido a morte, o fedor dos cadáveres em decomposiçlão, tudo motivou a nossa retirada rápida.
Como no dia em que estava na quinta, e os porcos tiveram que ser mortos. Como o chapadão que levei porque "também queria matar os porcos".
Saímos agora, vamos encarreirados na parte de trás do jipe, o silêncio é quebrado pelo som dos solavancos, dos fantasmas que todos tínhamos mas nenhum queria admitir. À minha frente vejo o Pedro apoiar o queixo na G3. Está a... pôr o dedo no gatilho??!!

RATATATATATAA!!!....

Travagem brusca, corpos em cima uns dos outros, os jipes à frente param, todos saem, atiram-se ao chão. Emboscada!, Emboscada!, gritam uns, outros disparam para o mato espesso, às cegas.
No nosso carro estamos todos calados.
Agora o silêncio e o cheiro a pólvora.
O Abrantes tem o queixo a tremer com pedaços de crânio sapicados por toda a face. Eu só fechei os olhos. Sabe-me a boca a sangue.
Ao fundo o Gaiato apercebe-se e está-se a passar.
“Quero ir-me embora!! Quero ir-me embora, caralho!! Quero ir!!!”. O nosso alferes segura-o. “Larguem-me caralho!! Larguem-me já ou eu fodo-vos a todos!! LARGUEM-ME CARALHO!!!”.
E zás!
Dois chapadões bem assentes de um homem que toda a vida trabalhou o campo deixam-no num estado de choque bem mais silencioso. Chora para dentro agora. Sem lágrimas. Como já todos nós chorámos.

De volta à terra o silêncio sempre existiu.
Primeiro receberam-me como um herói, festa, casa cheia, pais a chorar de felicidade, a miúda a quem prometera casamento e que hoje é minha mulher e mãe dos meus filhos.
Às vezes tenho vontade de puxar o gatilho, como o Pedro. Quando vou à caça, e estou sozinho, quero puxar o gatilho. Quando acordo sobressaltado e a suar e urinado, quero puxar o gatilho. Quando me dão os remorsos e os fantasmas me visitam, quero puxar o gatilho.
Mas inevitavelmente me refugio no silêncio. Na caça. Em mim.
E tento esquecer que não entendo os meus filhos, que têm tudo e mais alguma coisa, e que valeu a pena, e que não tive culpa, e que sou ainda um bastião de alguém que era antes de ir.

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NPAF

terça-feira, maio 16, 2006

(Quase) todas as coisas que te quero dizer mas que tu não podes saber (sem fronteiras, que o coração fala uma só língua)

Quero que saibas que as manhãs sem o teu sorriso são menos solarengas.
Que brindo pelas vezes que perdemos as mesmas batalhas.
Que lamento amar-te e não te ter. Principalmente que lamento ainda estar magoado.
Que te sinto saudades como ferrões de vespas.
Que te amo, enfim.

Quisiera yo que tus labios en los mios no dejasen pasar un rayo de luz.
Quiero que sepas que mil veces pienso en ti, y outras mil te quiero olvidar.
Que el que tu llamas "saudade" es en mi corazon un raton lleno de hambre.
Que te siento todos los dias, todos.
Que lo siento...

Que só te quero ver dançar
A mis pies sin miedo
Num abraço lento e apressado
Bailar en un abismo sin riego
E à noitinha, cair no teu colo
Quedarme quieta en ti solo
Apenas, y tan solo

E por dentro do amor, até só ser possível amar tudo, voltar a casa, e descansar.
Mas deixa, não lamentes que eu não te lo diga, porque na verdade nunca te lo disse.

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NPAF

sexta-feira, maio 12, 2006

... pt qualquer

...e quando a maré enche?
quando as calmas e límpidas águas se transformam em vendavais
tufões e sismos incontroláveis de desavenças interiores?
trago o peso nos ombros - aguento-me à carga ou fujo a sete pés?
porque as coisas têm a sua importância, e o mundo tem o seu horizonte tapado
e o que hoje faz sentido, amanhã é paisagem nula...
apagam-se as luzes, fecha-se a cortina, o dia finda, a culpa invade-nos
e surgem as questões...
porque se cometem os erros para depois termos de pedir mil perdões por eles?
estupidez humana ou irracionalidade temperada?
vou-me com a certeza de que não sou melhor nem pior do que era
só a carga é maior e os dias são mais compridos
na pressa de um futuro incerto que tarda em não chegar...
corres e tropeças, cais e levantas, não corras!
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DACC

quarta-feira, maio 10, 2006

... pt 1

...é um deserto.
de areia na boca caminho em direcção ao oásis - pétalas nas sobrancelhas
vislumbro o que se passa lá ao longe
não quero saber, só quero mandar tudo fora
atirar palavras violentas à cara das pessoas que mais me prezam
espetar cabeçadas na parede numa esquizofrenia descontrolada
entorpecer os músculos, arranhar a garganta
apertar os sapatos, magoar os pés, entalar os dedos, fingir-me de morto
respirar insignificância...


tenho a noção de que o riso é tão insignificante como o choro,
que a gargalhada não me atinge mais que a lágrima,
que a batida do coração me consola a cada palavra que suspiro.

controlo-me por não ter noção de como não consigo ter noção das coisas.

os poucos momentos de racionalidade que me atingem - afasto-os como se do demónio se tratasse
como agarrar o futuro se o futuro não nos agarra?
lá está...

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DACC

quarta-feira, maio 03, 2006

... pt 23














que dia este...
parece igual aos outros mas não é...
tem a incerteza de que o tempo não passa...
o brilho da manhã que não respirei...
o calor da tarde que não vivo...
vai-se agora o sol, onde ando eu?
tenho-me visto por aí, nos intervalos da chuva,
do outro lado da rua a passar...
olho ainda para trás, mas já lá vou, esquecido de mim...
segue em frente - nem pestanejes!

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DACC